‘Trabalhador tem que morar no Centro’, diz sem-teto



Não fosse pela faixa vermelha na fachada do prédio na Avenida Nove de Julho, na região central de São Paulo, não haveria pistas de que o imóvel está ocupado desde a madrugada desta segunda-feira (26) por famílias sem teto. Vez ou outra, alguém surge nas janelas apenas para observar o movimento. Nos fundos, na Rua Álvaro de Carvalho, a situação já é diferente. Um único carro da PM guardava no fim desta manhã, do outro lado da rua, a pequena e aparentemente frágil porta de madeira que dá acesso aos fundos do prédio, velho conhecido das famílias sem-teto. De cima do muro, um homem vigia tudo, atento. Outros vários pedaços de madeira reforçam a segurança de quem está dentro, e a entrada e a saída de pessoas só são permitidas com identificação e depois da certezaSegundo uma das coordenadoras, o grupo é formado por famílias que já viveram no edifício e saíram com a promessa de que ele fosse reformado para que trabalhadores de baixa renda pudessem habitá-lo.

“Temos uma luta aqui desde 1997. Saímos em 2003 e depois reocupamos outras três vezes. Na última, saímos em abril de 2009”, explica Carmem Ferreira da Silva. Segundo ela, o prédio tem irregularidades. A primeira era um problema na delimitação do terreno, que já teria sido resolvida. “Agora a Eletropaulo está afirmando que existe uma conta de luz pendente no valor de meio milhão de reais. Cada vez que achamos que vamos morar com dignidade, surge um problema.”

Ela afirma que há um projeto do governo federal para que sejam construídos prédios no terreno da Rua Álvaro de Carvalho, que resultariam em 400 unidades e mais as 133 do prédio da Avenida Nove Julho. “Mas não há iniciativa da prefeitura. O projeto ‘Minha casa, minha vida’ não existe em São Paulo”, reclama, referindo-se ao programa de moradia para trabalhadores de baixa renda.“Não queremos nada de graça, mas queremos nossos direitos. E trabalhador tem que morar no centro da cidade”, afirma.

Ocupações
A FLM promoveu uma série de ocupações na madrugada desta segunda. Duas mil famílias, segundo estimativa do próprio movimento, ocupam esse prédio e mais um, na região central, além de um terreno localizado na Zona Sul.

Outro grupo grande, composto por cerca de 450 pessoas, tentou acampar em frente à sede da Prefeitura, no Centro, mas a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e a Polícia Militar impediram a aproximação dos manifestantes. Os sem-teto passaram a ocupar a região do Viaduto do Chá, com barracas. Eles aguardam ser atendidos pelo prefeito Gilberto Kassab. Além disso, a FLM afirma que formará uma comissão para ir a Brasília dialogar com representantes do governo federal.
de que não há policiais por perto.De acordo com Carmem, a desocupação só será feita mediante a previsão do governo de reforma dos prédios, para que as famílias possam voltar a viver neles. “Queremos saber do cronograma, porque moradia é nosso direito. Mas todas as vezes em que estivemos aqui foi pacificamente. Não somos bandidos.”

Um comandante da PM esteve no local para ver quantas pessoas se encontravam no prédio e se havia grande quantidade de mulheres e crianças – o que foi confirmado. Mas, segundo a polícia, por enquanto será feito apenas o monitoramento da situação, com uma viatura. Caso haja uma ordem judicial para a desocupação, a primeira iniciativa será o diálogo. Os sem-teto afirmam, no entanto, que em sua chegada ao local foram recebidos com gás de pimenta.

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