Moradores de morros de Niterói continuam em risco


Mais de 20 dias após as chuvas que arrasaram a cidade de Niterói, onde 168 pessoas morreram soterradas em 130 pontos de deslizamento, alguns moradores continuam em áreas de alto risco, diz o geólogo da UFF (Universidade Federal Fluminense), Adalberto Silva. A convite do R7, ele visitou duas regiões afetadas pela chuva e disse que os moradores deveriam ser retirados para que obras de contenção pudessem ser feitas imediatamente.

Na comunidade da Garganta, em Santa Rosa, onde cinco pessoas morreram, o geólogo explicou que tanto as casas construídas nas encostas quanto as casas à beira do córrego que corta a favela correm risco, algumas de desmoronar morro abaixo, outras de serem soterradas. Segundo ele, o ideal seria que toda a população fosse retirada dali.

Segundo Silva, o solo da região é muito volátil, e a camada de rochas por baixo dele está muito fraturada. Esses fatores naturais combinados com uma cobertura vegetal empobrecida, que facilita a infiltração da água no solo facilitaram os deslizamentos, assim como a falta de saneamento, a remodelagem indiscriminada da inclinação natural da encosta e um grande volume de água.


No entanto, o geólogo ressaltou que as chuvas do início de abril não foram fundamentais para que a área fosse afetada, pois a região já estava instável e, para ele, não demoraria muito para desmoronar, fosse com uma chuva forte ou fraca.

Silva disse ainda que a estrutura das encostas do local continua abalada e que até mesmo o tráfego na estrada Celso Peçanha, que fica acima da comunidade, põe em risco a segurança das casas da Garganta.

Sem vistoria

A artesã Claudete Bento, que mora às margens do córrego, na Garganta, conta que a Defesa Civil ainda não foi vistoriar o local, mesmo depois de cinco pessoas terem morrido no local.

– Tem pessoas que estão com a casa pendurada na encosta e continuam morando ali, tem gente que está reconstruindo a casa. A Defesa Civil não vem, deram uma notificação de interdição, mas nem olharam as casas, e nem todo mundo recebeu o papel.

De acordo com o geólogo da UFF, o maior problema da comunidade da Grota, em São Francisco, é a falta de saneamento, que criou uma erosão muito grande no solo, facilitando o desprendimento de blocos de terra da encosta.

Em alguns pontos, a erosão foi tão grande que alcançou a camada de pedras por baixo do solo e criou uma cachoeira de esgoto. O geólogo também explicou que depois de um deslizamento o melhor a fazer é não, retirar o material que caiu da encosta sem antes fazer uma contenção. Caso contrário, os riscos de um novo deslizamento são ainda maiores, pois a inclinação do terreno fica mais acentuada.

3.000 casas em risco

Em depoimento prestado nesta quarta-feira (28) ao Promotor de Justiça do Meio Ambiente Luciano Mattos, o secretário municipal de Serviços Públicos de Niterói, José Mocarzel, disse que dez equipes da Defesa Civil estão nas ruas da cidade para identificar áreas de risco e interditando casas quando necessário.

Segundo a assessoria da prefeitura, a demanda é muito grande, mas todas as áreas denunciadas serão vistoriadas.

Mocarzel informou que ainda existem 3.000 casas em áreas de risco e que a maioria deve ser demolida. O secretário ainda se comprometeu a apresentar à Promotoria de Meio Ambiente, no prazo de dez dias, um relatório com o mapeamento das áreas de risco e as medidas a serem tomadas pela prefeitura nesses locais.

A promotoria está analisando a implementação e a regularidade de um possível plano de identificação, monitoramento e contenção de áreas risco por parte das autoridades.

Em 2004, a prefeitura, na gestão de Godofredo Pinto, encomendou ao Instituto de Geociências da UFF uma pesquisa para mapear as áreas de risco de Niterói. A primeira fase, que abrangia as regiões Centro, Norte e Sul da cidade, foi concluída e, das áreas mapeadas, 70% eram de encosta. Em relação a essas áreas, constatou-se que 35% eram de alto risco, incluindo o morro do Bumba e as comunidades da Garganta e Grota.

Adalberto Silva, geólogo que foi o vice-coordenador do projeto, disse que a segunda fase que mapearia outras áreas da cidade nem foi iniciada, porque a parceria com a prefeitura terminou antes. Segundo ele, o mapeamento parcial já continha informações suficientes para um melhor monitoramento das áreas de risco do município.

O atual prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, negou no início deste mês que a prefeitura tivesse sido alertada pelo estudo de forma precisa sobre os locais de risco.

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