Beltrame: ‘O Alemão e a Penha terão 2 mil homens só nas UPPs’




O desafio de combater o tráfico em áreas conflagradas como os complexo do Alemão e da Penha requer medidas extremas. E o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, garante já ter planos para isso: a ideia é ocupar os conjuntos — hoje os principais e mais bem armados redutos do Comando Vermelho — com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de 2 mil homens. O efetivo equivale ao de três batalhões. Na entrevista a O DIA, 24 horas após o início da pacificação de sete favelas da Tijuca, o secretário também respondeu a leitores, que cobraram soluções para alguns dos pesadelos dos moradores do Rio: roubos de rua, arrastões, falta de policiamento na Zona Norte. A região será contemplada com mais oito UPPs este ano, como frisou Beltrame, que também deu detalhes sobre compra de equipamentos, aumento no salário dos policiais e concursos. E garantiu ainda que continuará combatendo a milícia e a contravenção.


prgunta= A História do Morro do Borel foi marcada por grandes confrontos e violência. No entanto, a polícia ocupou a área esta semana sem fazer nenhum disparo. Isso era esperado?

Beltrame: O Borel foi dentro do esperado, tranquilo. Como foi no Tabajaras e Providência. A parceria com a Polícia Civil ajudou porque a inteligência faz levantamentos e prisões antes de a ocupação começar. Teve operação dia 18 no Borel. Um mês depois, ocupamos.

Então, são necessárias ações prévias?
Quem investiga tem que prender. Se a Polícia Civil tem informação, vai lá e prende, não vai esperar os policiais se formarem, o Bope subir para pegar. Na Providência foi assim. O tráfico ficou tão enfraquecido, que antecipamos a ocupação. Não havia necessidade de esperar. Com o trabalho feito pelo batalhão e a delegacia, as pessoas foram sendo presas, fugindo. O morro ficou meio acéfalo.

Poucas pessoas foram presas nesse início de ocupação. É um sinal de que o anúncio da UPP fez com que os bandidos fugissem?
Como fazemos entradas maciças, os bandidos estão vendo como a polícia vem se comportando, que está entrando para ficar. Se tem alguém lá, eles acham melhor fugir, porque sabem que se forem para o confronto, não terão chance.

A secretaria sabe que os criminosos se refugiam em outras favelas. É uma estratégia isolá-los para facilitar as prisões?
O Comando Vermelho realmente foge para o Complexo do Alemão. Mas quem se refugia lá são um ou dois, e olha lá! Na verdade, são pessoas se metendo no ‘negócio’ de outras. Quantos migraram? Quinze, 20 ou cinco? A Inteligência captou que as lideranças foram para lá. Eles não têm condição de dar guarida para muitos bandidos, não têm cacife para isso. Sei que lá tem arma, tem criminosos de grande porte, mas falar em refúgio, não é assim. E pelo nosso planejamento, feliz ou infelizmente, a gente vai se encontrar. Mas vai ser a última vez.

Falando em Alemão, quando a UPP vai chegar ao complexo?
Levamos em conta o peso social de entrar lá. Não vou buscar três ou quatro criminosos e correr o risco de uma pessoa ser alvo de bala perdida. Mas se tiver a informação para entrar com a UPP e que faça virar a última operação, vamos. O pessoal do Bope comemora: ‘É a última vez que vou entrar no Pavãozinho. Chegava na esquina e tomava tiro. É menos uma na minha lista’. Vou fazer isso no Alemão, Rocinha, Jacarezinho, para implantar um sistema que recupera o que acho de mais caro para o ser humano, que é a liberdade. Quando fomos lá, detectamos um barraco com 15 mil cartuchos de 7.62. Diante de uma potencialidade bélica dessas, tinha que ir. Vai ser uma operação complexa, mas vou tirar das mãos dessas pessoas um equipamento desgraçado.

Esse otimismo dos policiais de entrarem pela última vez nessas favelas seria também porque diminuiu o número de PMs mortos e feridos onde há UPPs?
O efeito UPP não é só dar liberdade, devolver o direito de ir e vir das pessoas. Zeramos o índice de policiais mortos. De janeiro de 2006 até antes das inaugurações, tivemos quatro policiais mortos e 22 feridos. É o efeito de você tirar as armas do lugar. Em alguns meses, posso até começar a tirar homens das UPPs que já estão consolidadas e botar nas ruas. As pessoas não querem e não precisam mais do tribunal do tráfico, do assistencialismo. Temos hoje uma relação de um policial para cada 75 habitantes. Em área com bom atendimento de serviço público, a relação pode ser de um para 200.

A previsão da secretaria é de quantas unidades até o fim do ano?
Vamos pegar o Maciço da Tijuca, os lugares que consideramos mais conflagrados. Esses lugares de onde se irradia a violência. O Morro dos Macacos, Andaraí e Salgueiro estão na lista. Serão mais oito UPPs até o fim do ano.

E quais serão as comunidades beneficiadas?
Tenho que manter o suspense (risos). Todas na Grande Tijuca e adjacências. Tem algumas mais na Zona Norte, a previsão é de dois ou três lugares lá.

Isso significa contratações. Haverá novos concursos para a PM?
Já está planejado. Vamos aumentar o efetivo de 37 mil para 55 mil. Isso, inclusive, é exigência do Comitê Olímpico para 2016. Isso vai nos exigir fazer concursos anuais para 5 mil policiais. Levamos dois anos para planejar tudo, porque precisamos fazer um diagnóstico para colocar em prática. Agora, a partir do ano que vem, o efetivo que entrar para esses concursos vai ser dividido também para os batalhões.

Alguns policiais se preocupam que, com a entrada de homens para as UPPs, não sobre dinheiro para aumentos salariais. O senhor pretende discutir isso com o governador?
O policial pode ter esse sentimento, mas e a população? Ele é um servidor público, tem que se preocupar com salário, mas tem que prestar um serviço à população. E estou cansado de ver um ou dois policiais tirando serviço dentro do Complexo da Penha, só os dois numa viatura. Não tem mágica, a não ser fazer concurso. E o governador já tem estudos sérios com o governo federal. Temos esse apoio e, já no segundo semestre, vamos estabelecer como vão ficar o piso salarial, as bolsas, tudo isso.

Então, vai ter um aumento salarial?
A nossa esperança é ter. Como o estado não tem condições, vamos estabelecer com o Ministério da Justiça que ele dê o pontapé inicial. Temos esperança de ser atendida a promessa que o próprio ministro da Justiça fez.

Depois do atentado ao contraventor Rogério Andrade, quais as medidas da secretaria para evitar um banho de sangue?
Em primeiro lugar, é bom que a sociedade saiba que esse desentendimento entre essas duas ou três pessoas que dizem dominar a contravenção no Rio é uma briga de família. Pessoas que estiveram longe do estado e que tentaram desmoralizá-lo por mais de 20 anos. Isso é um problema de família, o que não quer dizer que nós não tenhamos que entrar, intervir.

Mas, secretário, houve um atentado.
É verdade, mas aquilo ali são coisas muito pessoais. É lógico que a sociedade viu e, obviamente, aquela cena choca, mas aquilo não é um atentado dirigido a dezenas de pessoas. Em relação à investigação, não posso dizer o andamento, mas não vamos deixar isso passar.

E a repressão aos caça-níqueis instalados perto de órgãos públicos?
A gente vem batendo. O problema é que, além de combater as máquinas, tenho a obrigação legal de custodiá-las. E a máquina é um trambolhão, as delegacias estão abarrotadas, tenho uma carreta nova para transportar cavalos do RPMont que está levando máquinas porque não tenho onde colocar. Prevendo esse problema, tivemos que diminuir nosso ritmo de apreensão em 2009. Agora, é determinação minha que isso aconteça semanalmente. Desde a semana passada, as delegacias têm metas de apreensão. E vão fazer enquanto eu estiver aqui.

Este é um ano eleitoral. Pelas informações da Inteligência, é possível saber se milicianos já estão se articulando, apesar das prisões realizadas?
A polícia nunca havia prendido deputado, vereador, prefeito, e nós fizemos isso. Agora, nós, policiais, temos que buscar a prova. Desde que entramos, nunca mais abandonamos a Zona Oeste. Volta e meia tem um, dois presos. E qualquer indício será remetido ao Tribunal Regional Eleitoral, temos uma parceria firmada.

As obras da Cidade da Polícia já iniciaram?
Precisa de processo licitatório, marcado para 5 de junho. Acreditamos que até dezembro, janeiro, inauguramos junto com o Centro de Comando e Controle, na Praça 11.

Qual a principal conquista desses quase quatro anos de sua gestão? E o maior desafio que ainda não conseguiu superar?
O principal desafio não alcançado vamos deixar para o fim do ano (risos). A maior conquista foi o povo do Rio ter comandantes de batalhão, delegados, chefe de polícia, comandante-geral escolhidos por critérios técnicos e não por indicação política. Como vou fazer UPP na Cidade de Deus se o comandante não fui eu quem coloquei, o delegado não fui eu quem indiquei? Tudo o que estamos começando a colher hoje é fruto desta autonomia que o governador nos deu lá atrás.

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